SOLIDÃO


(...) Ah, solidão, sua bandida traiçoeira... Quantas vezes ainda precisarás estar comigo, a querer cortar-me o pulso, a pulso, a esfolar o que resta da minh’alma insone e dorida, a lembrar-me de teus vazios, de tuas fugas e deserções? Para quê ainda precisas de mim, solidão? Não tenho mais espaço para tua insistência, nem para o pouco caso de teu escárnio, menos ainda para tua postura fria e indiferente, tampouco para a insignificância que me revelas. Para quê tanto, solidão? Para quê teus rigores invernais e sem sentido, tuas distâncias infinitas e tanta, tanta indiferença? Já não tenho fôlego para suportar tuas mazelas, pois desfaleço aos poucos pelo teu eterno abandono, ou pela tua insistência em morar dentro de mim... Ah, solidão, sua bandida traiçoeira... Para não ferir, apunhalas e esfacelas o que me resta, e a fórceps me arrancas das entranhas um último vazio, mas aos pedaços e aos poucos. É para não ferir? Pois cumpre, então, o teu propósito, solidão, enquanto me sento, resignado, a esperar! De mim já tivestes tudo que havia, quase não há mais nada para arrancar. (...)
© Marcos Gimenes Salun 


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